
Os dias passam, as crianças crescem e todos ou quase todos vivem com aquele pensamento de que tudo acontece por obra do “destino”. Isso é um absurdo pensar que todos nascem com seus caminhos traçados e que não podemos fazer nada pra mudar. Meu pensamento em relação á isso é diferente acho que cada passo que damos constrói nossos...
Caminhando pelas ruas do extremo leste de SP como sempre fico estava pensando sobre o que um velho amigo meu disse que nascemos e crescemos com nossos caminhos traçados. Me pego em dúvidas se isso seria uma verdade ou não. Apenas aquilo que as outras pessoas querem que seja uma realidade.
Lembro-me de uma história que alguém me contou um dia...
Há alguns anos um tal de Albert um cara mal encarado, estúpido, rude enfim um marginal por assim dizer... Vivia nas ruas da cidade. Passava seus dias às margens da miséria. Comia quando dava ou quando seu vicio por álcool e drogas o deixava gastar seu dinheiro com algo que o sustenta-se fisicamente e não mentalmente.
Desde pequeno aprendeu que não importa o que ele fizesse nada mudaria sua vida.
Por isso que ele está como está... Perdeu todas as esperanças de tentar ser alguém melhor. Alguém que há muito tempo não é.
Um dia como outro qualquer sentado com seus “amigos” de vicio no vão do Masp com sua lata na mão naquele momento de êxtase, alucinado como em todas as tardes que passara ali naquele local inabitável um senhor de meia idade o vê e sente uma enorme piedade daquela pobre alma que mal sabe o que é ser feliz na vida. O senhor que bem sabe que sua vida depende apenas de si mesmo e das ações que ele faz no seu dia-a-dia e que nunca acreditou nessa de que o “destino” já está escrito desde que você nasce chega bem perto de Albert e o pergunta:
-Meu jovem o que fazes aqui neste local imundo, parecendo um mendigo que bem sei que não é? Albert com sua lata na mão e sua alucinação já nos últimos minutos vira rapidamente e o responde:
-Senhor realmente mendigo eu não sou mais lutei pra ser. Minha vida já estava no bico do corvo. Acabei-me durante anos e anos e venho me acabando mais depois que vim pra este local e conheci essas pessoas. Passos meus dias às margens da miséria. Vivo da piedade das outras pessoas que acreditam que aquela moeda que elas colocam em meu velho e sujo boné seja pra comprar algo pra comer e não é bem assim cada moeda que pego aqui ajunto e compro uma pedra. Com ela me sinto bem pra ser mais sincero não sinto nada. De vez em quando é bom não sentir nada sabe. Parece que você não sofre tanto como na realidade. Sempre fui motivado a acreditar que você já tem um caminho traçado desde que nasce. Por isso perdi as esperanças que ainda restavam em minha vida. O senhor vendo aquele sofrimento tão arrasador e tão cruel faz uma réplica.
-Como é seu nome? O rapaz o vira e diz:
-Me chamo Albert... Então o senhor continua... Bom Albert eu nunca acreditei nessa de nascer com o destino traçado. Há muito tempo atrás eu já passei pela mesma situação que você, mas não porque eu não tinha mais esperanças na vida e sim porque esse foi um momento de desmotivação. Parei de acreditar em mim mesmo e nas pessoas. Mas de repente eu percebi que aquela não era a vida que eu sempre sonhei pra mim. Viver jogado à beira da calçada esperando a piedade de alguém. Levantei-me procurei aqueles que por dias, meses ou anos não me lembro bem que como você mesmo disse a algum momento atrás “Não sentia nada, e era bom” e também não lembro de nada. Mas fui atrás daqueles que me amavam e me queriam bem. Todos que te amam te ajudam mesmo sem ter como ajudar... Minha mãe que tanto me amava correu atrase conseguiu uma clinica de reabilitação onde por uns seis meses eu permaneci sem usar nada. Segui firme e forte e conclui. Hoje como você mesmo pode ver sou outra pessoa. Não mais necessito disso pra me sentir bem. E isso de não necessitar dessas coisas pra me sentir bem me fortalece e me faz seguir em frente. Uma dica que eu te dou Albert... Saia dessa, procure seus familiares aqueles que te querem bem vou deixar com você meu telefone de casa quero que daqui uns 7 meses você me ligue e teremos essa conversa novamente ok? Albert acenou com a cabeça e pegou o papel e colocou no bolso.
Os dias passaram e o senhor estava em sua casa tomando seu chá da tarde como de rotina quando o telefone toca, ele rapidamente deixa a xícara de chá em cima da mesinha e atende ao telefone... Alô diz o senhor, do outro lado da linha uma voz feliz e confortante responde:
-Aqui é Albert se lembra de mim do vão do MASP senhor?
-É claro Albert. Como vai?
-Muito bem. Hoje me sinto novo uma outra pessoa. Depois daquela conversa que tivemos me toquei e percebi que realmente nossa vida só fica ruim se a gente deixa de acreditar em nós mesmos. Procurei aqueles que me amam e eles estenderam os braços a mim, uma pessoa suja, imunda e viciada. Percebi que eu podia ser mais do que eu era. Entrei numa clinica e fiquei lá durante longos e tortuosos seis meses. Acabei ele semana passada. Gostaria de saber se o senhor poderia ir a minha “formatura” acho que é isso... Iremos falar sobre nossas experiências lá dentro e o que aprendemos com tudo isso. Posso contar com a sua presença senhor?
-Mas é claro. Quando será?
-Amanha às 14h30 na clinica São José Em Mogi das Cruzes.
-Ok estarei lá...
O Senhor desligou o telefone e continuou tomando seu chá.
No dia seguinte ele acordou cedo como sempre fazia. Tomou seu banho. Tomou café. Comeu um pedaço de pão com manteiga e foi pra sua caminhada diária.
Quando o relógio tocou já era 12h. Estava na hora de se arrumar e ir pra Clinica ver a vida daquele jovem que por obra do acaso havia mudado.
Pegou um ônibus onde ficara por uns 15 min. Depois deu uma andada de 5 minutos. Enfim chegou ao local combinado. À porta da Clinica encontrava-se Albert e sua mãe. Albert reconheceu o senhor como cão que reconhece o dono quando chega do serviço.
Logo Albert o cumprimenta e diz:
-Obrigado se não fosse o senhor eu ainda estaria jogado por ai sem viver. O senhor responde:
-Eu já passei por isso... Não me agradeça só continue assim!
Todos entraram na clinica, foram até um salão de tamanho médio onde muitas pessoas se encontravam. O primeiro a falar foi Albert e o que mais emocionou o senhor neste testemunho foi quando Albert disse:
-Eu era um peso putrefato. Pensava que vivia, mas na realidade não vivia. Os dias passavam e minha vida passava junto sem eu aproveitar nenhum instante. Mas foi quando um senhor chegou a mim e disse palavras confortantes. Fez-me acordar pra vida e hoje estou aqui. Sou uma nova pessoa. Tenho expectativas de vida e comecei a acreditar que somos nós que construímos nossos dias. Obrigado senhor devo minha completa mudança a ti. Obrigado...
Depois disso Albert deu um apertado abraço no senhor e o mesmo caiu em prantos.
Os dois até hoje se encontram pra tomarem chá e falar da vida.